Um minucioso estudo científico e cultural realizado pelos doutores Silvano Sulzart, Francisco Barbosa dos Santos e Luciene de Jesus Santos Souza levanta alguns questionamentos reflexivos sobre a verdadeira ancestralidade do município de Salinas da Margarida, que é formada pelas comunidades de Dendê (Porto da Telha), Encarnação de Salinas, Cairu, Conceição de Salinas e Barra do Paraguaçu.
Esse trabalho de pesquisa tem como objetivo despertar a reflexão sobre os aspectos da ancestralidade e a identidade cultural que faz parte do dia-a-dia desta cidade. Seus personagens denominados Senhores e Senhoras do Mar, ou seja moradores que deram uma rica contribuição para entender a verdadeira ancestralidade.
Foram realizadas 20 entrevistas narrativas com os Senhores e Senhoras do Mar, pessoas com idade entre 68 a 114 anos de idade no município de Salinas da Margarida. São esses personagens que conhecem de perto, em detalhes, os movimentos da maré, onde tiram o sustento a décadas ao catar mariscos, como andar no manguezal, como tirar ostras, sururus, pegar aratu, siri, peixes e camarões. É esse tipo de conhecimento que somente as mulheres do mar dominam. A cultura do mar fala muito sobre cada nativo, mostra sua identidade, diz quem é, de onde é e como são.
A história de Salinas das Margaridas,pertencente à Capitania dos Portos de Salvador, mostra que era povoada pelos índios Tupinambás e era dividida em duas: “Fazenda Conceição e Santa Luzia” adquiridas pelo comendador Manoel de Souza Campos, pessoa de grande prestígio no cenário político estadual da época.
Mas um fato marcante mudou a história da cidade em 03 de fevereiro de 2017, quando a Fundação Palmares certificou Conceição de Salinas, como uma comunidade remanescente de quilombolas, processo que se iniciou em 04 de fevereiro de 2015. Antes disso, não foram encontradas nenhuma evidência que indicasse que a comunidade de Conceição de Salinas, como sendo uma área de remanescentes de quilombolas.
De acordo com informações do Ministério da Cidadania, as comunidades quilombolas e remanescentes de quilombolas são sociedades com identidade cultural unica e surgem dentro de uma realidade histórica de luta e resistencia pela sobrevivência contra a escravidão. No entanto, ao tratar especificamente do distrito de Conceição de Salinas e da Cidade de Salinas da Margarida, não há registros históricos de que nesta região, tenha existido comunidades quilombolas ou remanescentes de quilombolas.
O estudo mostrou ainda, que Conceição de Salinas é uma comunidade negra, de homens e mulheres característicos de uma ancestralidade negra, o que não quer dizer que a comunidade seja remanescente de quilombolas.
Vale destacar que das 20 pessoas entrevistadas na cidade de Salinas da Margarida e na comunidade de Conceição de Salinas, não houve nenhuma narrativa ou memória dos Senhores e Senhoras do Mar, pessoas com idade entre 68 a 114 anos que trouxessem à tona lembranças sobre ser Conceição de Salinas uma comunidade quilombola. O fim da escravidão aconteceu em 1888, há 133 anos atrás. Caso existissem remanescentes de quilombo nesta região, certamente alguns dos Senhores e Senhoras do Mar resgatariam de suas memórias alguma passagem desse período de sofrimento para o negro na história da Bahia.
COMMENTS